CACHOEIRA DO SUL PREVISÃO

Dia Nacional do Pampa

Pampa é o bioma com maior perda percentual de área

Divulgação imagem ilustrativa - fireção ilustrativa -

O Dia Nacional do Pampa, comemorado em 17 de dezembro, foi instituído para homenagear o nascimento do ambientalista José Antônio Lutzenberger e, como consequência, conscientizar a população da importância desse bioma. O Pampa é o bioma brasileiro com maior perda percentual de áreas naturais no período entre 2000 e 2018, segundo a Associação de Servidores da Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Infraestrutura do Rio Grande do Sul (Assema/RS).

Apesar da rica biodiversidade, este bioma foi negligenciado por muito tempo, sendo reconhecido oficialmente somente em 2004. Isso ocasionou uma perda progressiva da biodiversidade local. No total, o Pampa compreende aproximadamente 63% do território do Rio Grande do Sul e estende-se ao sul e a oeste do Uruguai e nas províncias argentinas de Corrientes, Entre Rios, Santa Fé, Córdoba, Buenos Aires e La Pampa.

De acordo com o gestor das Unidades de Conservação Parque Estadual do Espinilho e Reserva Biológica São Donato, ambas localizadas no Rio Grande do Sul, Mauricio Scherer, o Pampa não é simplesmente uma pradaria com vastas áreas de gramíneas, apesar de, em termos de porcentagem, o predomínio da região ser de áreas campestres.

Características

O bioma abriga outros componentes característicos da região como as matas rupestres e capões, principalmente vinculados à condição topográfica mais acidentada com rochas, sendo uma 'ilha' no meio do campo. Também ocorrem as matas associadas aos rios - matas ciliares- e as áreas levemente onduladas que se estendem de Alegrete à Santana do Livramento.

Já na região de São Francisco de Assis, Manoel Viana e no norte de Alegrete são vistos os campos arenosos - popularmente conhecidos como areais - e chamados erroneamente de deserto. O local possui campos com vegetação rarefeita de gramíneas, com areia e espécies restritas a esse tipo de solo. "Apenas nessa região é possível encontrar o butiá anão (espécie de palmeira). Esse é um dos exemplos de espécies peculiares que ocorrem somente neste bioma", explica Scherer.

O Pampa também possui regiões úmidas de banhado. A Reserva Biológica do São Donato tem como objetivo de criação a proteção dessas áreas presentes na região oeste do Rio Grande do Sul. Com cerca de quatro mil hectares, a unidade de conservação abrange os municípios de Itaqui e Maçambará.

Endemismo

No limite da fronteira oeste com o Uruguai na região entre Uruguaiana e a a Barra do Quaraí há o Parque Estadual do Espinilho. Segundo o Gestor, este é 'quase um outro bioma', pois é a expressão de duas regiões biogeográficas que apresentam características únicas. Este é um ambiente de endemismo de espécies - ou seja, que só podem ser encontradas de forma natural em um local específico - como é o caso do gato palheiro.

"O caso do gato palheiro é ainda mais excepcional, pois se trata de um felino que recentemente foi descoberto que é exclusivo do Pampa gaúcho, uruguaio e argentino. Pesquisadores identificaram que a espécie que ocorre nesta região não é igual à que habita regiões entre o México até o extremo sul da América do Sul. Portanto, fala-se de renomear a espécie como gato pampeano", esclarece.

Em relação às aves, o veste-amarela - espécie em risco de extinção - está restrito aos pampas, assim como o corredor-crestudo; o arapaçu-platino e o cardeal-amarelo que, em vida livre, só existem 30 indivíduos restritos ao Parque do Espinilho.

Devido ao reconhecimento recente como bioma, o Pampa ainda não consta da Constituição como Patrimônio Nacional como é retratada a Floresta Amazônica e a Mata Atlântica. Essa situação traz consequências prejudiciais, segundo Scherer: "Muitas espécies que estão sendo descobertas nesse último período, lamentavelmente, já estão na lista de ameaçadas e vulneráveis de extinção. Além disso, muitas vezes são aniquiladas linhagens ainda não descritas pelos pesquisadores".

Perda de área

Conforme Scherer, o bioma vem sofrendo com a perda de áreas naturais. "Muitos acham que se é campo, não tem nada e não existe desmatamento onde não tem "nada". Mas aqui a perda de área é muito maior do que é vista na Amazônia, em termos de proporção"

"O que é presenciado no Pampa é a conversão dos campos em lavouras, e isso é uma perda imensurável em relação à parte botânica. Diversas espécies de plantas pequenas, que parecem insignificantes ao olhar leigo, estão em campo nativo. Quando há a conversão desse campo para a agricultura, diminui a abundância dessas espécies.", lamenta.

Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2020 apontam que o Pampa sofreu uma redução de 16,8%, principalmente para fins agrícolas. Um outro levantamento disponibilizado na Rede Campos Sulinos, também em 2020, relatou que, entre 2012 e 2018, a cada ano 125 mil hectares de campos nativos foram transformados em lavouras, silvicultura ou pastagens plantadas. Ademais, o estudo mostrou que este é o bioma com a menor área percentual protegida em Unidades de Conservação, estando muito abaixo do compromisso internacionalmente assumido na Convenção de Diversidade Biológica de 17%.

Solução na pecuária

O Gestor informa que, para salvar o bioma, é fundamental que tanto a população gaúcha quanto a brasileira valorizem a biodiversidade do local. Além disso, apesar de parecer contraditório, Scherer relata que a pecuária correta também pode resgatar o Pampa.

Estudos e comprovações cientificas mostram que a presença do gado de maneira adequada e o manejo correto pode salvar espécies. Esse exemplo é visto no Parque Estadual do Espinilho: se o gado - colocado em uma área que não há problemas ecológicos devido à presença do rebanho - for suprimido, os cardeais-amarelos não serão preservados. "Essa ave está adaptada a sobreviver em pastos mais baixos onde é possível acessar o alimento com maior facilidade no solo. Caso o gado seja retirado, o ambiente sofrerá alterações na vegetação e, com isso, os pássaros sofrerão pela dificuldade de se alimentar", explica Scherer.

O Código Florestal Brasileiro institui que todos os biomas brasileiros precisam ter uma reserva legal. Essa ferramenta no Pampa é equivalente a 20% da propriedade rural. O produtor que mantém esses 20% de campo nativo, além de estar cumprindo a lei, está produzindo alimentos chamados 'de terroir', que possuem características exclusivas de um local.

"Conseguir trabalhar a produção de gado em cima de área nativa é uma enorme vantagem que o pecuarista tem. Isso é muito específico do Pampa, e não é visto em nenhum outro local", finaliza.


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