CACHOEIRA DO SUL PREVISÃO

Lais Abreu

São elas e sempre serão

Costumo brincar com as minhas irmãs dizendo que eu sou a melhor junção dos meus pais, mas apesar disso, no fundo eu sei que o jeitinho único de cada uma tem seu valor e claro, faz diferença na minha vida. Quando somos crianças, lidamos com os ciúmes dos irmãos, somos mandados ou somos aqueles que mandam, viramos cobaias, herdamos roupas, até que a diferenças de idade deixam de importar e todas as brigas se tornam cumplicidade.

Somos tão diferentes uma da outra. Uma fala pelos cotovelos, uma fala o necessário, enquanto a outra quase não diz nada. Uma se cuida às vezes, a outra lava o cabelo todo dia, enquanto a outra demora 48 horas pra ver uma escova. Uma é trabalhadora, dona de si. A outra é responsável, cheia de toques e manias milimetricamente calculadas. A outra vive um dia de cada vez, se atrapalha com as tarefas e a deixa ser levada pela vida.

Mas ao mesmo tempo somos tão iguais. O jeito de andar, de falar, de mexer no cabelo. A falha na sobrancelha. A facilidade de entender uma a outra só com o olhar que quando é pouco, um cutucão resolve. O jeito leve de viver a vida. O otimismo. A rapidez em brigar e esquecer em 10 minutos. A firmeza, a determinação. A dificuldade em reconhecer o erro, mas entender que ele precisa ser dito, por mais difícil que seja aceita-lo.

Viajo no tempo e retorno ao passado vivendo a doçura extraordinária do nosso amor que sobreviveu e sobrevive a tudo: as brigas pelo canal da tv, pelo serenata de amor na caixa de bombom, o ''vai tomar banho você primeiro" "não, você primeiro", ao "eu vou na janela'' "não, eu que vou''. As roupas desaparecidas do guarda roupa. A cirurgia de apêndice de uma. De coração da outra. A primeira viagem da mais velha sozinha. A primeira a ir morar fora. A segunda a ir. O retorno das duas. A intriga por quem deixou o prato sujo. Quem comeu o último doce da geladeira.

São elas que quando ninguém consegue me entender, elas se esforçam pra isso. São elas que estavam comigo no meu primeiro tombo de bicicleta. Quando arrumei briga na escola. Quando sofri de amor. Quando quase morri de saudade por morar fora. Fui eu quem sempre estive, quando elas passaram mal, na primeira recuperação de inglês, no primeiro emprego, na mudança de colégio, no apoio às novas amizades, nas noites esperando chegarem das festas.

São elas que me conhecem por inteiro, sabem de toda minha vida. Às vezes até mais do que eu. São elas que me dizem o que eu tenho que fazer quando estou em apuros. Sou eu que puxo a orelha quando elas erram. São as roupas delas que ficam melhores em mim. Sou eu que digo como o cabelo delas fica bom. E mesmo que às vezes elas discordem, elas continuam me pedindo opinião antes de ir pro salão. São elas, e sempre serão. A gente ri do passado, se estranha no presente, mas não imagina um futuro uma sem a outra.


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