CACHOEIRA DO SUL PREVISÃO

João Eichbaum

A Polícia, o PCC e o CV

MAIN

“A tática é uma velha conhecida nos meios policiais: o bandido entregar o que a polícia deseja para tentar evitar uma reação que atrapalhe em demasia os negócios das organizações criminosas”. Assim, Marcelo Godoy iniciou sua crônica no Estadão. Assim, sem vírgulas e com o verbo “entregar” no infinitivo. Mas, mais importante do que esse deslize, é a revelação por ele feita: o exército e a polícia federal conseguiram recuperar as armas furtadas do Arsenal de Guerra, em Barueri, porque foram enviados recados aos bandidos, ameaçando tirar-lhes o sossego.

O colunista então deu a conhecer, para todo o Brasil, essa “tática”, que é “velha conhecida nos meios policiais”.

Daí se tira a seguinte conclusão: a polícia tem condições de entrar em contato com a bandidagem que domina o país, para trocarem figurinhas a serviço de mútuos interesses. Depois dessa conclusão, evidentemente, vêm as perguntas que todos os brasileiros gostariam de fazer: se a polícia tem esse poder, se tem hegemonia sobre os criminosos, se sabe como arrancar deles o que ela quer, por que o crime domina o país, exibindo maior organização do que a do Estado?  Se ela e o Exército tiveram condições de dominar o crime, por que a população fica entregue ao deus-dará? Se basta uma ameaça “aos negócios das organizações criminosas”, por qual razão o povo, que sustenta o Exército e a Polícia, não é contemplado com um mínimo de segurança? Por que será que o alto comando do crime está instalado no sistema carcerário, donde expede ordens para as facções a ele subordinadas, pinta, borda, organiza rebeliões, elimina inimigos, sem que até hoje tenha sido molestado? Por que, volta e meia, em audiências de custódia, ou por ordem escrita de juízes, desembargadores ou ministros, a grandes figurões do tráfico é concedida a regalia da liberdade? Por que cargas d’água o senhor Fachin proibiu, durante o governo Bolsonaro, atraques policiais nas favelas, estabelecendo espaços onde a polícia estava proibida de operar? Não vale mais esse salvo-conduto? Ou alguém acredita que as organizações criminosas ignoram esse selo de impunidade?

Lembrem-se: quem assaltou bancos, sequestrou embaixadores e foi preso no regime militar, desfruta hoje das benesses e regalias do Poder. Da Lava Jato, que condenou corruptos e conseguiu devolução do dinheiro mal havido, mas agora está desmoralizada, só ficou como boa lembrança o japonês da Federal. O Mensalão prendeu quem? Além do denunciante, Roberto Jefferson, só peixes pequenos cumpriram pena.

Para a GLO do Lula o perigo está nos portos e aeroportos, onde foi colocado o Exército: longe dos quartéis generais do tráfico.

Agora estoura a notícia de que a Primeira Dama do Comando Vermelho e Rainha do Tráfico Amazonense foi recebida no Ministério da Justiça do Lula. Fora dos autos, Gilmar Mendes já sentenciou: “o crime organizado encontrou meios e formas de se situar na sociedade brasileira”. Ora, quem molda o Estado é a sociedade. Então, a falta de segurança é fruto do ventre da democracia, emprenhada por múltiplos incestos.

Editorial em tom de julgamento Anterior

Editorial em tom de julgamento

Direto de expressão sob censura? Próximo

Direto de expressão sob censura?

Deixe seu comentário