Felca e o alerta sobre a adultização: quem protege a infância no Brasil?
Cátia Liczbinski
Felca e o alerta sobre a adultização: quem protege a infância no Brasil?

Nos últimos dias, após ser assunto de grande interesse na internet, tem-se falado muito em relação ao fenômeno da adultização, assunto que preocupa especialistas, pais e educadores no Brasil. Trata-se de uma pressão mesmo que não perceptível para que crianças e adolescentes assumam comportamentos, estéticas e responsabilidades que pertencem ao mundo adulto. Isso envolve o modo de se vestir, falar, se expor nas redes sociais ou até no trabalho precoce, comprometendo direitos fundamentais garantidos pela Constituição Federal e pelo Estatuto da Criança e do Adolescente.
O youtuber Felipe Bressanim, conhecido como Felca, é um dos influenciadores digitais mais populares entre jovens no Brasil, e utilizou sua plataforma para divulgar o tema da adultização, chamando atenção para os riscos da exposição precoce de crianças nas redes sociais e na mídia.
A adultização ocorre no campo da estética, com meninas cada vez mais jovens sendo incentivadas a usar maquiagem, roupas sensuais e a reproduzir padrões de beleza impostos pela mídia e redes sociais. Há também a adultização emocional, quando crianças são obrigadas a lidar com problemas e responsabilidades típicas dos adultos, como cuidar de irmãos e familiares.
Psicólogos (Natalia Sertori, Guilherme Polanczyk e outros) alertam que a adultização pode gerar ansiedade, depressão, baixa autoestima e dificuldades de socialização. Ao pular etapas essenciais do desenvolvimento, a criança perde momentos fundamentais de aprendizado, brincadeira e imaginação, que moldam não apenas a identidade, mas também a forma de lidar com o mundo. Além disso, a adultização fragiliza a proteção contra a violência sexual, pois normaliza comportamentos e imagens que colocam crianças em posições de vulnerabilidade.
Dados do Unicef e de organizações brasileiras revelam que meninas são as principais vítimas desse fenômeno, especialmente em contextos de desigualdade social. A cultura de hipersexualização feminina, somada ao machismo estrutural, reforça a ideia de que a infância pode ser abreviada. Este é um desafio coletivo: a sociedade precisa refletir sobre como protege, educa e valoriza suas crianças.
A adultização possui inúmeras causas como: pressão da mídia e das redes sociais, desigualdade social que força crianças ao trabalho precoce, valores culturais machistas que estimulam a hipersexualização de meninas e a falta de limites impostos pelos responsáveis. Muitas vezes, inclusive os pais acabam reproduzindo comportamentos que reforçam o problema.
Além de problemas emocionais como ansiedade e depressão, a adultização fragiliza a proteção contra abusos e violência sexual. Crianças expostas precocemente a padrões adultos perdem uma etapa fundamental de socialização, brincadeira e construção da identidade, comprometendo o presente e o futuro de toda uma geração.
São necessárias a criação de políticas públicas específicas que regulamentam de forma mais rígida a exposição infantil nas redes sociais e no marketing digital; campanhas educativas; fiscalização para prevenir o trabalho infantil disfarçado de produção de conteúdo; incentivo a projetos escolares que valorizem o brincar e a infância; além de políticas de apoio psicológico e social às famílias.
A adultização não é sinônimo de amadurecimento saudável, pelo contrário: ela rouba a infância e compromete o futuro. Proteger as crianças de pressões sociais, econômicas e estéticas é um dever que vai muito além da esfera familiar, é responsabilidade de todos. Pois, uma sociedade que não respeita o tempo da infância compromete sua própria capacidade de evoluir.
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