CACHOEIRA DO SUL PREVISÃO

Atlas da Violência

Mulheres negras têm 64% mais risco de serem assassinadas do que brancas

No Brasil, para cada mulher branca vítima de homicídio, foram vitimadas 1,8 mulheres negras (soma de pretas e pardas), segundo o Atlas da Violência 2020. 

No ano passado, foram 1 326 mulheres mortas pelo menosprezo e discriminação ao sexo feminino, o chamado feminicídio, uma alta de 7,1% na comparação com o ano anterior, de acordo com o Anuário de Segurança Pública. Do total de vítimas, 67% tinham a mesma cor: negra.

Este percentual revela uma maior vulnerabilidade das mulheres negras a este tipo de crime, uma vez que elas representavam apenas 52,4% da população feminina nos estados que compõem a base de dados do Atlas.

E até o aumento de casos é desigual. Entre 2008 e 2018, enquanto a taxa de homicídio de mulheres não negras caiu 11,7%, a taxa entre as mulheres negras aumentou 12,4% -de forma geral, embora o número geral de homicídios no país tenha caído até 2019, houve alta de 11,5% entre os negros (homens e mulheres) e queda de 12,9% entre os brancos .

Quando olhamos para o total de vítimas de homicídios, as mulheres correspondem só a 8% dos assassinatos, mas o risco para as negras de serem vítimas é 64% maior do que para as brancas. "A maior concentração de feminicídios entre as mulheres negras reforça, mais uma vez, a situação de extrema vulnerabilidade socioeconômica e à violência a que este grupo populacional está submetido. O racismo e suas consequências agravam o risco de lesão e morte entre as mulheres negras, exigindo das políticas públicas um olhar interseccional para os diferentes processos de vulnerabilidade que se sobrepõem", afirma o documento.

Os números ainda são subnotificados. Isso porque muitos casos não chegam a ter registros oficiais, parte dos estados não divulga dados de raça/cor e, até

mesmo os que divulgam apresentam falhas, já que, em boa parte, o campo aparece como "não informado".

Embora o feminicídio seja observado em todas as faixas etárias, a maior parte dos casos se concentra entre mulheres em idade reprodutiva, entre 20 e 39 anos. Outra característica que distingue os feminicídios das demais mortes violentas intencionais é o instrumento empregado para perpetrar o assassinato, já que o mais utilizado é a arma branca, não a arma de fogo.

Nos casos em que a informação está disponível, 58,9% dos feminicídios têm como local de ocorrência uma residência e que, em 89,9% dos casos o autor do crime é um companheiro ou ex-companheiro da vítima. A principal motivação é briga ou término de relacionamento.

Na pandemia do coronavírus, que deixou as mulheres ainda mais vulneráveis, países como França, Espanha, Itália e Argentina transformaram quartos de hotéis em abrigos temporários, garantindo a elas não apenas proteção em relação ao seu agressor, mas assegurando que cumprissem sua quarentena de forma segura, além de criarem centros de aconselhamentos em farmácias e supermercados para que as denúncias fossem realizadas através de "palavras-código".

Já por aqui não houve ações do tipo. "A expansão de canais de denúncia, lançamentos de cartilhas e a promoção de campanhas não têm o mesmo impacto. Ainda mais em um país como o Brasil, em que o perfil das mulheres que são vítimas de violência de gênero, em geral pobres e negras, aponta para a limitação do uso e acesso a recursos materiais, como celulares e internet, e maior dependência de serviços públicos, que deveriam ter sido priorizados", afirmou o Anuário de Segurança Pública.

Parte dessas mulheres também morre vítima da violência armada no país, seja por facções criminosas, milícias ou a própria letalidade policial, com índices igualmente mais fatais para as negras.


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